A HISTÓRIA DE UM RETRATO

ARTIGOS | 12/01/2017

Quem assistiu meu curso ‘Como ser o melhor 2º fotógrafo’ na PhotosTv, já conhece essa história, e quem não assistiu, vai conhecer agora.

Talvez, a tarefa mais difícil em preparar uma apresentação para uma palestra ou um curso, seja o slide onde temos que contar quem nós somos. Pelo menos para mim é, por dois motivos: o primeiro, é não parecer prepotente ou arrogante, afinal todos nós temos a tendência em exaltar nossas qualidades e esconder nossos defeitos, e o segundo é exatamente sobre definir o que é uma qualidade e o que é um defeito. Para alguns ser sincero é uma qualidade, para outros nem tanto.

Imaginando como poderia falar sobre quem é o Rafael Petrocco, decidi me inspirar em alguns colegas de profissão que ao subirem ao palco dizem: ‘A fotografia é o resultado de quem somos!’ ou algo assim. Então resolvi me transformar em uma fotografia. E assim como a imagem eu poderia ser ‘lido’ de duas formas, racionalmente (pela lógica) como um exif ou emocionalmente, assim como o momento registrado através da imagem.

Falar racionalmente de mim, ou falar o meu exif era fácil, 1,90m, olhos claros, caucasiano, tímido, extrovertido … Daria até um bom perfil no Tinder (se não colocasse a foto), mas como eu poderia falar do ‘Rafael Momento’?

Decidi deixar essa tarefa para um grande amigo, um dos maiores retratistas do país e que tive a honra de ser retratado duas vezes em ocasiões bem diferentes, o fotógrafo Evandro Veiga. Na primeira oportunidade, o retrato foi realizado durante a Feira Fotografar, entre um bate-papo e outro com os amigos que passam pelo stand que ele estava. Coisa rápida, mas de uma sensibilidade e qualidade incrível, e a segunda oportunidade em uma pizzaria, entre uma garfada e outra, mas que o resultado seria completamente diferente e muito mais importante do que da primeira vez.

Devo dizer que, quando pedi para escrever esse texto era para que ele descrevesse o Rafael como pessoa, através do retrato que ele havia feito, assim como faz com todos os outros retratos registrados por ele, mas tenho que confessar que ao ler o texto até o final (e só li até o final no dia do curso) a emoção tomou conta, pois através do texto que vocês poderão ler abaixo, ele conseguiu, mesmo sem saber, captar o melhor sentimento que eu pude sentir até aquele momento na minha vida, saber que eu seria pai da pequena Elena.

Espero que gostem da história.
Um grande abraço!

Na mesma cidade, um novo olhar.

Fui algumas vezes para a capital paulista sempre para compromissos profissionais. Era a segunda vez que encontrava o Rafael, um cara divertido, daqueles que tem sempre a melhor piada para encaixar. Uma pessoa de presença leve, amistosa.

Fomos (um grupo de mais ou menos 15 pessoas) para uma pizzaria de um shopping e como é de se imaginar, o clima de confraternização depois de um grande evento de fotografia, escolhemos rapidamente nossos lugares.

Quem me conhece sabe muito bem que gosto de conversar com pessoas, principalmente as que nunca tive a oportunidade. Mas nesse dia, algo me chamou atenção no semblante do Rafael. Sua respiração estava espaçada, um sorriso sempre escapava naqueles momentos em que não estava falando ou ouvindo. Mas como eu posso afirmar isso?

Citei acima que algo estava diferente naquela personalidade.

No que diz respeito a fisionomia detalhada, suas pálpebras inferiores estavam “muito altas” e uma alegria contida com ar de segredo escoava quando aquele sorriso aparecia. Antes que você pense que estou usando alguma técnica mística (ou dando a entender que tenho algum dom), já vou lhe avisando: não acredito nisso. Minha opinião.

O fato é que esses detalhes estavam denunciando algo.

Não parecia ser mais uma piada vinda do seu inteligente e excelente humor. Ele estava particularmente diferente.

Pedi a câmera de sua sócia (queria muito testar aquele equipamento – Fuji Xt-1/56mm 1.2) para clicar alguns momentos. Não demorou muito e pedi para fazer um retrato dele. Tinha algo ali que deveria ser registrado. E tinha.

Aquele cara divertido e sempre sorridente, estava escondendo um segredo que sua psique não conseguia segurar. O brilho nos olhos de um novo homem, era isso que eu não consegui traduzir.

Mas ser retratista é isso. É enxergar o que às vezes é só se apresenta para ver. E isso não é um super poder, tampouco um dom . Acredito que isso tem a ver com o quanto nos importamos com as pessoas, com a importância que dedicamos a cada um, sob a iminência de que qualquer pessoa a sua frente seja um possível retratado com suas mensagens em forma estética.

Rafael definitivamente mudou. Seu semblante transbordava como um copo cheio.

Depois de confessar sua paternidade, fiquei feliz não por acertar nas dicas de seu rosto, mas de saber que o conteúdo daquele segredo era a melhor verdade que um filho pode reconhecer: o amor incondicional de seu pai, muito antes de vê-lo na vida.

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