A FAMA É UMA DROGRA, E ELA VICIA

ARTIGOS | 24/11/2016

“Eu entrei nesse mundo com uns 13 ou 14 anos…
Foi meu vizinho que me apresentou… eu nem sabia o que era.
Foram umas 3 ou 4 vezes, só no final de semana.
Eu até gostava, mas foi rápido, logo acabou.
Não senti falta, aliás achei que nunca mais precisaria.
Mas o mundo dá voltas e há 6 anos me envolvi novamente!
E não tem jeito, não tem mais como sair… Agora eu dependo dela!”

Este poderia ser mais um discurso de um viciado em drogas, mas sinto informar que esta é a minha história com a fotografia.

Quando eu era adolescente, com uns 13 ou 14 anos, o padrinho de batismo do meu irmão (nosso vizinho), que era fotógrafo de casamento, me convidou para ser seu assistente de luz (ou o ‘famoso’ segurador de pau de fogo). Minha tarefa? Em 3 ou 4 ocasiões ligar o flash (que já era remoto) e me posicionar para a foto. Além disso, minha outra tarefa (que eu mesmo me dei) era comer a sobremesa ou os docinhos do casamento. E eu era pago para isso!

O sonho durou pouco…

Em 2010, quatro meses após eu me casar, sem querer voltei ao mercado fotográfico. Iniciei como designer de álbuns e responsável pelo site do estúdio que fotografou meu casamento. Um ano depois eu já trabalhava com o Guilherme Riguetti (uma das referências em fotografia em Campinas e que muitos de vocês conhecem) como 5º fotógrafo, depois 4º, 3º, 2º e, às vezes, 1º…

No início da carreira e durante essa transição de emprego comecei a seguir muitas pessoas nas redes sociais, mesmo sem saber quem elas eram ou imaginar quem poderiam vir a ser. O engraçado é que algumas pessoas acreditam que foi o Papo de Fotógrafo que ‘me tornou conhecido’ entre os fotógrafos, quando na verdade a história é mais antiga.

Para resumir, na minha primeira participação no Wedding Brasil (2011, eu acho) fui empolgado para conhecer a turma dos #FotógrafosTwitteiros e voltei para casa decepcionado, pois não consegui identificar ninguém – mas também, com aquela foto do perfil do Twitter com 3 pixels… Ao voltar para casa criei uma camiseta que pudesse nos identificar nos eventos. A brincadeira deu tão certo que foram feitas aproximadamente 400 camisetas e entre os compradores estavam Rafael Benevides, Robison Kunz, Sandro Andrade, Ana Cariane e muitos outros amigos. Eu me tornei o “Homem das Camisetas” e revista Digital Photographer até publicou uma matéria sobre isso. Mais adiante, foi a vez da caneca da mesma “marca” e me tornei o “Homem das Canecas”.

Não era o meu objetivo, mas esse foi o primeiro gostinho de fama. E não vou negar, é muito bom!

O Papo de Fotógrafo é o resultado de tudo isso, somado à ideia de unir os amigos e à descoberta que poderíamos gravar tudo e disponibilizar para a galera. E, querendo ou não, o podcast projetou os nossos nomes (da Ana e o meu) entre os colegas de profissão. E mais uma vez, experimentamos de uma dose de fama e, como todo excesso, isso pode ser perigoso!

Entendi que a fama não é uma droga pura! É como a cocaína que circula na periferia – ela vem misturada com um pouco de EGO e, até, com uma boa dose de CARÊNCIA.

Nos três primeiros anos do PDF fizemos de tudo para estar EM TUDO (literalmente)! Precisávamos que as pessoas nos conhecessem. Precisávamos estar onde todos estavam. Precisávamos fazer o que todos faziam e que todos queriam que fizéssemos. Precisávamos mais e mais e, como viciados, tentávamos fazer escambo com a nossa (suposta) fama. Passávamos mais tempo em congressos, eventos, workshops do que com as nossas famílias. Tirávamos dinheiro do bolso para alimentar nossas necessidades…

Mas acredito que não chegamos a atingir o fundo do poço!

Entramos na “reabilitação” e com a ajuda de alguns anjos da guarda (amigos) descobrimos que o que realmente conquistamos durante esses mais de três anos de Papo de Fotógrafo não era quantidade, mas sim qualidade. Descobrimos que salvamos a vida de uma pessoa, que mudamos a história de outra e que ajudamos, sem saber, muitos amigos e colegas de profissão em suas carreiras, estivessem elas no início ou já com certo tempo de estrada. Do nosso jeito, estávamos fazendo a diferença. E o entendimento disso é que realmente nos mudou e nos salvou! E durante o tratamento você passa a enxergar o mundo de outra forma.

Hoje, acompanhando as redes sociais (meu outro vício) reconheço alguns outros tipos de “usuários”, os viciados em likes, os viciados em elogios, os viciados em comentar todos os posts de seus ídolos para não serem esquecidos ou ficarem de fora da turminha, viciados em autopromoção… E em alguns casos esses usuários passam a ser “traficantes”, pois se tornam verdadeiros tiétes criando “fã-clubes” que alimentam ainda mais os egos e os vícios.

O processo de reabilitação não é nada fácil. A batalha entre a razão e a emoção é longa. Uma das maneiras de lidar com esse conflito é me apegar ao fato de que para minha filha eu sou importante, sou a melhor pessoa do mundo, sou seu herói. Não existe like maior do que seu sorriso, comentário maior do que seu olhar de carinho e que serei o único premiado como MELHOR PAI DA ELENA DO MUNDO.

Para voltar a ser um “anônimo” é necessário muito amor próprio, autoconfiança e coragem.

Meu nome é Rafael Petrocco e estou há uma semana sem ir a um evento de fotografia!

Um grande abraço!

Rafael Petrocco
www.rafapetrocco.com.br
www.instagram.com/rafapetrocco
www.facebook.com/rafapetrocco

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