Durante dois felizes anos tive a alegria de escrever uma coluna para uma revista destinada à fotógrafos profissionais, mas tristemente a revista acabou e junto com ela, parei de escrever. Porém, o desejo de dividir não acabou, então aí vai mais um pouco de mim.
Não sei se todos sabem, mas me dei a chance que poucos tem na vida de tirar um ano sabático. Sim… Um ano de “férias” após 17 anos de trabalho intenso e de um aprendizado constante e incansável. Foram poucos, muito poucos mesmo, finais de semana passados em casa com a família. Não me arrependo de nada, muito pelo contrario, afinal, foram nesses finais de semana que conheci a pessoa mais importante da minha vida, conheci clientes que se tornaram amigos eternos, e parceiros de noites sem dormir que são hoje muito mais que apenas parceiros; são irmãos que nascem de outra família, mas adotamos como se fossem de nosso próprio sangue.
Porém, a vida nos prega algumas peças. E são nestes momentos que somos “acordados” para reflexões e verdades que antes não dávamos a devida atenção. No meu caso, essa verdade foi sobre o valor do tempo. Ahhh o tempo…
Tempo para viver e gozar o fruto do que conquistamos, tempo de ver nossos filhos darem os primeiros passos e crescerem, tempo para conversas que não sejam por Whatsapp e tempo para ler. Tempo inclusive para dormir, mas mais do que isso, tempo para refletir. Refletir sobre o que amamos. Nesse tempo que tenho agora, tenho pensado muito exatamente sobre o que me deixava sem tempo, a fotografia. Sobre a minha fotografia e sobre o que tem chegado até mim sobre fotografia.
Talvez porque agora consiga parar para surfar a web, tenho sido bombardeado por um número sem igual de imagens que tem sido compartilhadas através das redes; seja por facebook, por instagram, ou nos websites e blogs sobre casamento; e no Brasil temos uma tendência a super saturar essas redes e confesso que cheguei a tomar uma decisão radical… Não iria mais abrir as redes sociais aos Sábados…. é um volume tão absurdo de fotos de casamentos, que é o meu mercado, que fica até difícil acompanhar. Até que dias atrás, recebi de um grande fotografo, aliás, um dos melhores fotógrafos de casamento do mundo, um link para um clipe de fotos de um job que ele fez e que me fez pensar no porque desta decisão. E segura que aí vem polêmica…
Tenho visto imagens e mais imagens de uma plástica perfeita. O vestido perfeitamente arrumado, a mão colocada delicadamente no peito do amado (com os dedos no lugar certo para que a aliança brilhe impecavelmente) , o contra-luz na hora exata do pôr do sol, o salto que congela no ar, a água ou a areia jogadas ao alto para refletir o disparo preciso do flash e até mesmo noivos de ponta cabeça em lugares perfeitos e paradisíacos. Sem falar o encaixe exato com a arquitetura… Tudo em prol de uma plástica absurdamente bela. Nada está fora do lugar. Parece uma cena de filme de Hollywood. E é exatamente aí que, para mim, mora o problema.
O cenário de Hollywood. A florzinha que está exatamente no lugar que deveria estar. Será que é para isso que fotografamos? Para criar a imagem mais plasticamente perfeita? Para criar uma cena que de tão perfeita seja a merecedora de mais “likes”?
Não tem como não lembrar da frase mais do que incrível do amigo Joe Buissink, talvez um dos melhores fotógrafos de casamento que conheço: “Não existe a foto perfeita e sim o momento perfeito”. Ao ver o trabalho deste colega, o sentido desta frase caiu como uma bomba na minha cabeça. Não havia lá a foto do vestido, muito menos das alianças…Não havia o encaixe exato da cabeça da noiva no vão redondo de uma janela em contra luz, mas havia lá uma seqüência indescritível de fotos onde a perfeição era a emoção que brotava em lágrimas furtadas, em conversas e olhares cheios de sentimento e em camadas e mais camadas de informação e histórias. Tudo isso cheio de vida.
Eu não estive neste casamento, não conheço este casal e muito provavelmente não os conhecerei, mas tenho certeza que estive em seu casamento. As fotografias eram tão especiais que vivi aqueles momentos com aquele casal. Um casal da qual não tenho idéia nem dos nomes. Imagino que os filhos que esse casal possa vir a ter, sentirão uma alegria sem tamanho ao poderem viver o casamento de seus pais de forma tão verdadeira e intensa. Ah! Isso tudo aliado a uma técnica impecável e posso dizer, com uma plástica perfeita. A plástica da verdade.
Sei que esse colega sabe tudo de fotografia, e conseguiria fazer qualquer uma das fotos que estiveram, estão ou estarão na moda. E por isso mesmo ele tem o direito de escolher a que mais lhe fala ao coração. Qual será a plástica que prevalecerá? Ai vou voltar na questão do tempo. Ah, o tempo… Só ele dirá.
Obrigado caro amigo… Você, mesmo sem saber, encheu meu coração de paz. A paz de olhar para trás e ver que fui e sou fiel às minhas verdades. Para mim, nada supera a verdade do olhar, do abraço verdadeiro, do momento furtado e único. Mesmo que para isso, eu esteja remando contra a maré. Talvez meus agora 18 anos de carreira me permitam um conselho: Se para você a verdade é esta ou aquela, não importa… O que importa é que você seja fiel às suas verdades.
Agradeço com todas as minhas forças aos clientes e amigos que acreditaram nessa verdade, entenderam o quanto ela era sincera e me fizeram ter uma vida sensacional.
Muito obrigado… Espero contar ainda muitas estórias.
Fabio Laub
www.fabiolaub.com.br
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