Em contrapartida a selfies filtradas e harmonizações, cresce a busca por retratos sem retoques pesados
Filtros hiper-realistas, retoques digitais e edições pesadas nos feeds das redes sociais chegaram ao ápice nos últimos anos, impulsionando também uma onda de insatisfação corporal alimentada pela busca de uma imagem “perfeita”. Prova disso é que o termo “harmonização facial” teve um crescimento de 2.000% nas buscas do Google, enquanto “rinoplastia” aumentou 700%, de dezembro de 2019 a dezembro de 2020.
A dermatologista Ligia Kogos, em entrevista à Veja, relata que pacientes chegam à sua clínica em São Paulo levando selfies filtradas como referência de como gostariam de se ver. “A parte boa é que os médicos conseguem entender melhor o que querem. O problema é que muitas vezes isso é inatingível”, ressalta.
Em contraponto a essa busca pela perfeição inalcançável, cresce um movimento em defesa da estética natural. Fortalecido por hashtags como #semfiltro, que já reúne mais de 8 milhões de menções no Instagram, o movimento questiona o padrão de beleza criado pelas redes sociais e propõe resgatar a imagem real, com texturas, marcas e características individuais que antes eram apagadas em aplicativos de edição.
Embora a manipulação digital tenha se consolidado como regra em campanhas publicitárias desde os anos 1990, a fotografia de beleza vive um momento de revisão desses excessos. Fotógrafos, modelos e marcas independentes vêm apostando em campanhas e ensaios que exaltam a pele natural, as rugas, os poros e os sinais de expressão. No Brasil, nomes como João Pedro Sampaio, conhecido por registrar retratos sem maquiagem pesada e utilizando luz natural, seguem esta abordagem para criar imagens mais autênticas.
O Carnaval de 2025 também refletiu esta tendência, segundo o jornal O Globo. Musas e rainhas de bateria optaram por exibir corpos mais naturais ou por recorrer apenas a intervenções estéticas mínimas, reforçando a mensagem de que aceitar a própria imagem pode ser libertador, mesmo em espaços em que a aparência física é constantemente julgada.
Para fotógrafos que buscam retratar a beleza real, alguns cuidados ajudam a fazer a diferença. Priorizar a luz natural, fotografar em horários em que a pele se mostra mais uniforme, evitar maquiagem em excesso e valorizar a textura original da pele são boas práticas.
Pequenas rotinas de autocuidado também ajudam: manter a pele hidratada, dormir bem e beber água são hábitos simples, mas que impactam no resultado final. Em ensaios de close, por exemplo, o uso de um lip balm faz toda a diferença para realçar os lábios de forma natural, evitando retoques digitais desnecessários.
Outro ponto importante que impulsiona a mudança de olhar é o debate sobre saúde mental. Especialistas alertam que filtros irreais e distorções digitais podem intensificar quadros de ansiedade e insegurança, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Pensando nisso, influenciadoras como Dora Figueiredo passaram a criar filtros que trazem mensagens de autoestima, subvertendo a lógica tradicional das ferramentas.
Desta forma, enquanto a indústria da imagem ainda convive com edições e procedimentos invasivos, cresce também o espaço para quem valoriza a imperfeição e defende que a fotografia pode e deve servir como um espelho verdadeiro.
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Fotografia: photographer / iStock
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