O MITO DO CROP
ARTIGOS | 15/03/2017
ARTIGOS | 15/03/2017
Pensamentos de uma fotógrafa fracassada…
Outro dia li a seguinte frase de um fotógrafo no Facebook: “Cada vez que faço um crop para melhorar uma imagem, sinto que fracassei como fotógrafo”. Fiquei um bom tempo refletindo sobre ela. Será que fazer um crop numa foto faz de você, ou da sua foto, um fracasso?
Num mundo ideal, todas as fotos já sairiam perfeitas no primeiro clique. Mas infelizmente, não vivemos nessa utopia. Principalmente quando não temos controle sobre tudo o que está à frente das nossas lentes, como é o caso dos fotojornalistas, fotógrafos de eventos, etc. As coisas acontecem de forma rápida e nem todos temos precisão cirúrgica quando clicamos, por mais que tentemos. Eu mesma, não tenho. Por exemplo, tremo muito (mal de família), e muitas de minhas fotos podem sair um pouco tortas. Com um leve ajuste de rotação na ferramenta crop, tudo volta pro lugar.
Porém, também existe outro motivo para cropar (tirando essa correção de horizonte para fotógrafos desequilibrados), que é a interpretação. Sempre ela. Aliás, re-interpretação. Cropar é, de certa forma, refotografar. Fazer uma releitura posterior da imagem, onde podemos enxergar uma nova fotografia, mais forte, dentro daquela. Essa é uma prática comum desde os primórdios da fotografia. Dizer que cropar é sinônimo de fracasso é chamar de fracassados boa parte dos grandes fotógrafos da história, muitos dos quais nem estão mais aqui para se defender, coitados. Um de meus fotógrafos favoritos, Eliott Erwitt, numa de suas fotos mais famosas, deu um baita crop*. Teria Erwitt fracassado como fotógrafo? Desculpe, mas considero isso uma heresia fotográfica.